A arte mais bela é o amor ao próximo.

sábado, 18 de junho de 2016

A Personalidade de Robert Schumann (parte 1/4)

Trechos disseminados no Livro CLARA SCHUMANN, la vie à quatre mains, Catherine Lépront, tradução Eduardo Brandão.

Incapaz de participar de uma conversa, se nela fossem abordados problemas cotidianos, ocorria não responder às perguntas que lhe faziam, ou exprimir-se numa voz fraca, sem timbre que evocava, para os que o escutavam, uma ‘conversa consigo mesmo’. Portanto, ele só se animava para contar aquelas histórias de duplos que faziam a alegria de Clara, Alwin e Gustav, que também lhes metiam medo [...] sombrio ou sonhador, parecia totalmente diferente do contador de histórias.

Quanto ao universo dos sonhos, Schumann era inesgotável; quanto ao real, ele se calava [...] cansado das pessoas, retirou-se para compor.

[...] germinou a ideia [...] de fundar uma revista musical [...] Por mais estranho que possa parecer, era Robert que animava essas conversas, esses projetos. Ora, suas intervenções eram raras [...] permanecia sonhadoramente voltado para dentro de si, os olhos semicerrados. Mas, se assistia a uma troca de ideias interessantes, animava-se a ponto de dar provas de loquacidade e vivacidade. Víamos, então, Robert de certa forma despertar e sair da sua meditação, eu diria integrar-se de novo ao mundo exterior – e seu olhar, habitualmente voltado para dentro, pousava nesse mundo exterior carregado de uma acuidade penetrante e de uma magnífica fantasia [...]

Schumann em seu primeiro artigo [...] à Allgemeine Musikalische Zeitung [...] interpelava o leitor e punha em cena três personagens: Eusebius – ‘conheces o sorriso irônico no rosto pálido’ – Florestan – ‘um desses raros músicos que parecem pressentir com grande antecipação tudo o que é futuro, novo, extraordinário’ – e Mestre Raro, árbitro. Três personagens de ficção, mas, sobretudo, três facetas de si mesmo.

[...] aquelas alternâncias de mutismo e de bruscas, brevíssimas retomadas de contato com a realidade ambiente; e aquele olhar azul, retirado, ‘como se ele procurasse, examinasse, escutasse sem cessar alguma coisa no mais profundo do seu ser’. Ele não mudara aparentemente [...] seu indicador ficara paralisado. Ele tinha de renunciar ao virtuosismo, logo à sua carreira de pianista.

Ela (Ernestine Von Fricken) contou que, um dia, depois de uma sessão de música, eles ficaram uma hora num barco e Schumann não pronunciou uma só palavra. Na hora de se despedir, ele disse simplesmente: ‘Hoje nos compreendemos perfeitamente’.

Robert pensava, já havia algum tempo, que a música lhe era ditada do exterior, por ‘espíritos’.