A arte mais bela é o amor ao próximo.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

A Personalidade de Robert Schumann (parte 3/4)

Trechos disseminados no Livro CLARA SCHUMANN, la vie à quatre mains, Catherine Lépront, tradução Eduardo Brandão.

Se não se encontravam, marcavam estranhos encontros: “Concebi um projeto simpático: tocarei amanhã, às 11 horas em ponto e pensarei bastante em você. Resta pedir-lhe para fazer a mesma coisa [...] Clara responde: Estarei amanhã, conforme seu desejo [...]

Quanto à Arte, também apresentou uma dupla face, um duplo caráter: ela estava presente, sem dúvida nenhuma, nas improvisações de Robert, em suas histórias [...] Era “arte”, mas impalpável, indizível. Uma presença. Por outro lado os exercícios ao piano, os estudos, a prática, a técnica, “toda uma arte”, dizia Wieck, mas real, concreta, como que encarnada pelo rigoroso professor que não tinha a menor propensão aos devaneios e desconfiava da fantasia, sobre a qual sua autoridade não tinha o menor controle.

Clara também assistiu às “querelas inauditas” deles, às “lutas penosas” empreendidas por Friedrich Wieck para persuadir Schumann de que “a própria essência da arte pianística” consistia em conquistar “um domínio do mecanismo, constante, frio e refletido”. E, principalmente, que ele necessitava de “precisão, igualdade, ritmo, pureza para adquirir um toque elegante...” – no que tinha razão, mas sempre acrescentava: “... a despeito da sua exagerada fantasia”. Banir a fantasia, o devaneio, a própria essência da arte romântica? Impossível para Schumann... Não era uma prova, fornecida por Robert Schumann, de que é possível opor-se ao mestre?

Cento e trinta e oito lieder de rara beleza, apenas no ano de 1840. ‘Mas, de onde lhe vêm todas essas centelhas?” [...] Vinham de uma prodigiosa cultura literária [...] por causa daquela ‘fisionomia’ particular de Schumann, talvez o mais erudito entre os músicos alemães, mas que uma extrema sensibilidade, uma imaginação transbordante, assim como a angústia e a intuição da loucura salvavam do puro intelectualismo.

Mas, Clara apenas entreviu o mundo fantástico cuja existência Robert, com suas histórias, lhe evocara – e ele permaneceu incompreendido por ela. Do mesmo modo, este outro modelo de comportamento que ele propunha com a sua simples presença. [...] Sempre a sua fantasia... Ela era “magnífica” apenas para seus amigos e para Clara, quando se tratava de ouvi-lo improvisar ao piano e contar suas histórias [...]