Trechos disseminados no Livro CLARA SCHUMANN, la vie à quatre mains, Catherine Lépront, tradução Eduardo Brandão.
[...] o que ele (Wieck) sabia de Schumann [...] o tornava inquietante. ‘Por sua maneira de se comportar’, ‘ele era bem diferente do que mostra em suas composições: nestas, ele se expressa em toda a plenitude de sua alma cheia de numerosas emoções, enquanto em sua vida seu elemento próprio era o silêncio. A íntima e violenta emotividade de Robert, seu mutismo, aquela distorção sobretudo entre interior e a aparência, e a ‘inquietante estranheza’ que daí emanava, tudo isso não podia deixar de perturbar Wieck [...] ciumento como pai (de Clara Schumann) [...] tinha diante de si um rival de uma candura e de uma ternura infinitas.
[...] o que ele (Wieck) sabia de Schumann [...] o tornava inquietante. ‘Por sua maneira de se comportar’, ‘ele era bem diferente do que mostra em suas composições: nestas, ele se expressa em toda a plenitude de sua alma cheia de numerosas emoções, enquanto em sua vida seu elemento próprio era o silêncio. A íntima e violenta emotividade de Robert, seu mutismo, aquela distorção sobretudo entre interior e a aparência, e a ‘inquietante estranheza’ que daí emanava, tudo isso não podia deixar de perturbar Wieck [...] ciumento como pai (de Clara Schumann) [...] tinha diante de si um rival de uma candura e de uma ternura infinitas.
Robert comportou-se muito bem,
com a sua calma costumeira. Aliás, era o que ele melhor podia opor à semelhante
explosão (do pai de Clara, no Tribunal).
Liszt [...] acamou-se doente,
Mendelssohn e Schumann vinham visitá-lo. Mendelssohn falava, Schumann calava.
Robert dizia de Richard Wagner:
‘Ele é impossível, fala sem parar.’ Richard dizia de Schumann; ‘Ele é
impossível, não diz uma palavra; não é possível, afinal, falar sempre sozinho.’
[...] abandonava tudo e, onde
quer que estivesse, fechava-se em si mesmo e voltava a seus ‘pensamentos
musicais’.
O filho de Carl Maria Von Weber,
que visitava Schumann com frequência em Dresden, contou que ele estava sempre
[...] completamente absorto em seus pensamentos, parecia assobiar uma música
para si mesmo, sem que ouvíssemos o menor som sair de seus lábios.
[...] dizia Schumann, ‘não posso
me conter, gostaria de cantar como um rouxinol até morrer’.
Clara se espantava: ‘Parece-me
estranho que os horrores lá de fora (na insurreição de Dresden) despertem em
Robert sentimentos poéticos aparentemente tão opostos a isso tudo. Percorre
esses lieder um sopro de pura serenidade. Tudo para mim volta a ser como na
primavera, sorridente como as flores.’
(O violinista Josef) Joachim era
muito inteligente, culto e tinha, desde há muito, uma admiração sem limites por
Schumann. Não se incomodou nem com o mutismo, nem com as ausências do mestre,
muito pelo contrário: ‘É mais que natural’, dizia ele ‘que entre a música
perpétua de sua alma certos fatos à sua volta passem despercebidos – só podemos
venerá-lo ainda mais por isso [...] Ele canta como a sua natureza lhe dita e
tem a coragem de dizer a todos: ‘Não sei fazer de outro modo. ‘É também, o
único a ter esse direito.’