Trechos disseminados no Livro CLARA SCHUMANN, la vie à quatre mains, Catherine Lépront, tradução Eduardo Brandão.
Incapaz de participar de uma conversa, se nela fossem abordados problemas cotidianos, ocorria não responder às perguntas que lhe faziam, ou exprimir-se numa voz fraca, sem timbre que evocava, para os que o escutavam, uma ‘conversa consigo mesmo’. Portanto, ele só se animava para contar aquelas histórias de duplos que faziam a alegria de Clara, Alwin e Gustav, que também lhes metiam medo [...] sombrio ou sonhador, parecia totalmente diferente do contador de histórias.
Incapaz de participar de uma conversa, se nela fossem abordados problemas cotidianos, ocorria não responder às perguntas que lhe faziam, ou exprimir-se numa voz fraca, sem timbre que evocava, para os que o escutavam, uma ‘conversa consigo mesmo’. Portanto, ele só se animava para contar aquelas histórias de duplos que faziam a alegria de Clara, Alwin e Gustav, que também lhes metiam medo [...] sombrio ou sonhador, parecia totalmente diferente do contador de histórias.
Quanto ao universo dos sonhos, Schumann era inesgotável; quanto ao real, ele se calava [...] cansado das pessoas, retirou-se para compor.
[...] germinou a ideia [...] de fundar uma revista musical [...] Por mais estranho que possa parecer, era Robert que animava essas conversas, esses projetos. Ora, suas intervenções eram raras [...] permanecia sonhadoramente voltado para dentro de si, os olhos semicerrados. Mas, se assistia a uma troca de ideias interessantes, animava-se a ponto de dar provas de loquacidade e vivacidade. Víamos, então, Robert de certa forma despertar e sair da sua meditação, eu diria integrar-se de novo ao mundo exterior – e seu olhar, habitualmente voltado para dentro, pousava nesse mundo exterior carregado de uma acuidade penetrante e de uma magnífica fantasia [...]
Schumann em seu primeiro artigo [...] à Allgemeine Musikalische Zeitung [...] interpelava o leitor e punha em cena três personagens: Eusebius – ‘conheces o sorriso irônico no rosto pálido’ – Florestan – ‘um desses raros músicos que parecem pressentir com grande antecipação tudo o que é futuro, novo, extraordinário’ – e Mestre Raro, árbitro. Três personagens de ficção, mas, sobretudo, três facetas de si mesmo.
[...] aquelas alternâncias de mutismo e de bruscas, brevíssimas retomadas de contato com a realidade ambiente; e aquele olhar azul, retirado, ‘como se ele procurasse, examinasse, escutasse sem cessar alguma coisa no mais profundo do seu ser’. Ele não mudara aparentemente [...] seu indicador ficara paralisado. Ele tinha de renunciar ao virtuosismo, logo à sua carreira de pianista.
Ela (Ernestine Von Fricken) contou que, um dia, depois de uma sessão de música, eles ficaram uma hora num barco e Schumann não pronunciou uma só palavra. Na hora de se despedir, ele disse simplesmente: ‘Hoje nos compreendemos perfeitamente’.
Robert pensava, já havia algum tempo, que a música lhe era ditada do exterior, por ‘espíritos’.